segunda-feira, 9 de maio de 2011

Qual é o tamanho de sua entrega ?

Por Maria Luisa

Ballet clássico. O tom que coloco em minha fala ao dizer isso é de uma força e uma paixão sem igual. Sei bem que não sou a única a pensar desta forma, que há uma legião de pessoas que sonham acordadas com o ballet. Somos varridos pela música e colocamos todo o nosso empenho para fazermos parte desse mundo.

Por quê?

Penso sobre isso há tempos e várias respostas surgiram a minha mente. A que mais me convenceu é a que segue.
As meninas são colocadas aos 7 anos - até menos - em um mundo cor de rosa de conto de fadas, de música, de um palco que parece um mundo imaginário, paralelo, um lugar onde elas podem SER PRINCESAS.

Meu  Mundo Mágico
  (Quebra - Nozes)

Há um longo caminho para se participar disto e estas meninas são condicionadas a não desistirem, a se sujeitarem a todos os tipos de dificuldades que cincundam o ballet clássico. Elas não conhecem outro mundo.
A bailarina é conhecida como um ser mágico, intocado, aquele da caixinha de música. Uma imagem a ser admirada, uma beleza que nunca poderá ser alcançada. Uma beleza que não pôde ser alcançada por aquelas que não suportam o peso da responsabilidade que o ballet trás e o abandonam, mantendo viva no imaginário a imagem de si mesmas como grandes bailarinas.


E foi aí que me dei conta de que uma garotinha é colocada em um mundo de tantos sonhos e de tamanha beleza que quando se depara com esta beleza, não quer presenciar nada que não seja belo. Não há porta de saída, apenas de entrada. Uma vez que o ballet entra em nossa vida, ele se impregna em nossa alma e se torna permanente. Ballet não é uma distração, e sim, parte de nossa identidade, uma vez que carrega como responsabilidade não apenas formar bailarinos, mas trazer a tona cada dia mais o ser humano em sua própria essência.

Admiro os bailarinos, pois eles têm o coração nobre, uma história de renúncia, de sacrifício, de entrega.
Quero sempre ter esta força. A força de dizer não para todas as outras coisas e renunciá-las em nome do ballet clássico. Assim foi feito por Nureyev e Pavlova, que entregaram a última gota da própria existência em nome da arte e de sua eternização.

PS: Rudolf Nureyev faleceu em 1993 de complicações da Aids, sendo que  depositou toda sua paixão arrebatadora para dirigir uma produção de La Bayadere para o Ballet Opera de Paris em 1992, ano em que já estava com a saúde altamente comprometida.


Anna Pavlova faleceu em 1931 de pneumonia e dizem que suas últimas palavras foram "Execute o último compasso bem suave" (sobre A Morte do Cisne, ballet que a consagrou).
Assim como eles, muitos outros bailarinos dedicam/dedicaram suas vidas exclusivamente ao ballet.



E você? Qual é o tamanho de sua entrega?